Amar o Mar
Mergulhar é amar o mar. É apaixonar-se por profundidades antes não imaginadas - e descobrir suas cores, sons, movimentos e elementos que, da superfície, são impossíveis de saber.
No mergulho, o ar que você esquece que respira, passa a ser inesquecível - ele limita seu tempo e profundidade, influi na sua flutuabilidade e te envenena se você não presta atenção.
Ao mergulhar, você é uma embarcação, um submarino de carne, osso, ar e neoprene, uma cápsula do tempo onde 45 minutos às vezes é muito e às vezes é muito pouco.
Lá embaixo, o mundo aqui de cima deixa de fazer sentido. Os propósitos são outros: mergulhando, somos apenas observadores, seres marinhos interagindo com seres de outras espécies. E lá é fácil lembrar quão frágil todas as espécies são, inclusive a nossa.
A cada mergulho há sempre uma descoberta a ser feita. De seres minúsculos ou gigantes. De peixes que parecem cobras. De corais que parecem cérebros. De cânions que parecem esculturas. De um você que você desconhecia - um você que é leve como um balão, que fica de ponta cabeça sem esforço, como um contorcionista, que fica só e em silêncio como poucas vezes na vida, que cuida de outra pessoa (que às vezes nem conhece) e é cuidado por ela porque é assim que se mergulha com segurança. Uma regra que devia também valer para a vida.
O mar ensina. E a convivência com ele nos faz vencer medos, enjôos, frio, calor. Muda nossa relação com o vento, com o movimento. Muda nossa relação com o mundo.
Deve haver mergulhador que não percebe tudo isso. Deve haver mergulhador que não dá esse valor todo aos ensinamentos e poder de cura do mar. Mas eu não conheço. Os mergulhadores que conheço amam o mar com amor de amante - se entregam com cuidado e vontade. Os mergulhadores que conheço parecem amar o mar como eu - um amor eterno e visceral, esperançoso de nunca ver o fim e sempre poder descobrir nele coisas novas.
O mar se renova todos os dias. E, mergulhando, lavamos a alma e renovamos nosso amor por ele, pela vida e pela sensação de felicidade infinita.